Pequena ave
Cravo os meus olhos numa pequena ave
Descortino cada minúcia com sagacidade
Torno-me um espectador dessa passarinha
Consome meu tempo contado; tardo todo dia
Num chafariz tem modos escrúpulos
Esquiva-se sempre para além-mundo
O sentimento foi inclusive circunscrevido
O coração ao mesmo tempo foi cingido
Cingido de arame farpado pelo pré-consciente
O lirismo circunscrevido pelo consciente
Bem como, quando alguém se avizinha
Num piscar de olhos, num pinote essa passarinha
Depressa esvoaça veemente e culminante
Velozmente desaparece no horizonte
Ate quando... Até quando tu pequena ave
Conservará, além disso, a teia de farpa
Em seu espírito que era suave?
Ininterruptamente resiste ainda anelada
E quem apetece portar refrigério, tu arredarás?
Quando estiveres alanceada, onde repousarás?
Em tempo algum se sabe por onde se embuça
Ou porventura nem em quais nuvens mergulha
Suponho copiosamente, tu entres às rochas
Talvez em algum cafundó, numa encosta
E ali, por horas, consternada, pávida, sem alento
Encolhida num lugar desfalece do lado de dentro
Todavia almeja amabilidade por perto
Só tens o Criador e num simples gesto
Embora sem robustez, a Ele faz a sua prece
E Ele constitui essencialmente um ser vivente
Para obsequiar a pequena ave do que carece
A passarinha emudecida tenta sustá-lo de repente
Nesta fenda fria sem coloração
Perde seu fulgor no frio da solidão,
No frio do detrimento do tempo de outrora
Esconde-se detrás de suas penas suntuosas
Cativante como as cores do sol nascente,
Esconde-se detrás de seus vôos eloqüentes
Com resignação submissa a tal sina
Sempre foges para a fenda depois do dia
Um praxe depois dos longos vôos,
Abrandar o cansaço de fugir de todos
Tudo em volta te apresenta contratempo
O tempo passará. Abrolhará o envelhecimento
O tempo desvanecido não se tem mais
Da visão de Deus você não se esquiva, jamais!