Quando morrem os sonhos
Quando morrem os sonhos
Jorge Linhaça
Quantas promessas jamais são cumpridas
ao longo da vida que vamos levando
Quantas desculpas vazias, puídas
E o nosso tempo já vai se escoando
Teimamos sonhar com dias melhores
fingimos crer no que é prometido
mas se de nós mesmos, não somos senhores
só mesmo enganamos aos nossos ouvidos
As tais promessas se vão protelando
Nunca há tempo ou disposição
Qual avestruzes vamos enterrando
nossas cabeças bem fundo no chão
Viramos gado levado ao corte
acovardados em fútil espera
Sempre esperando a virada da sorte
e ao mesmo tempo furtando-nos a ela
De tanto ver a preguiça alheia
que com o praga em tudo se espalha
podemos dizer com a boca cheia
um finge que paga, outro que trabalha
São sonhos mortos de levar vantagem
nas duas pontas da corda esticada
em todo canto manda a vadiagem
mesmo em quem tem a carteira assinada
Enquanto a cobra engole a cobra
neste refúgio de cobras criadas
De todo bom sonho já nada mais sobra
Só pesadelos enfeitam estradas
A alegria é só bebedeira
onde se turva a razão e a mente
Hoje a paixão é só brincadeira
a gerar filhos de pais indigentes
Mas se o sonhar é preciso e preciso
quão necessária se faz a verdade
Ainda, que dita, provoque o riso
entre os arautos da impunidade.
Salvador,28 de fevereiro de 2012