O QUE ORA ESCREVO
O que ora escrevo
Submete meu próprio vício:
Enlevo de filamento fino
De não precisar pensar
De não buscar auspícios
No precipício que me escapa
Da interior ordem solapada de mim
O que ora escrevo
Serve p’ra me desabotoar:
Ao ignorar o que pensam outros
Dos meus outros pensamentos
Ou sobre o que pensam eles
Nos pensamentos outros
Deles mesmos...
Num arremedo de espasmo
Num jorro pilecado de sangue
O que ora escrevo
Fala pela dor da carne
Ao invés do lamento
E gera no ar uma poesia
De dureza madrasta
O que ora escrevo
De completo, me solapa:
Na aleivosia de dizer
O que jamais eu poderia
Ao tempo mesmo d’eu nutrir
Esse mesmo pensamento!