NASCERES E ARREBÓIS
No ventre,
Agasalhado,
Qual uma ostra,
Qual numa concha.
E depois de várias luas,
De vários sóis,
De vários nasceres,
E vários arrebóis,
No ápice de maré,
A concha se abre.
E, na praia da vida,
A ostra homem,
Refém dos urubus,
Dos gaviões e das urutus,
Luta dia a dia.
E a fragilidade,
Independe da idade,
Nessa praia tão quente;
Tão cheia de gente,
Que nem parece gente,
Mas aves de rapina.
E a ostra,
Longe de sua concha,
Longe do seu escudo,
Refém dos falconiformes,
Refém dos strigiformes,
De garras fortes,
Dos bicos recurvados e pontiagudos.
E, na praia da vida,
Depois de muitas luas,
De vários sóis,
De vários nasceres,
E vários arrebóis,
A ostra entra no ventre da terra,
E sua alma sobe ao céu.