versos desbotados
não devemos ter certeza de nada
a certeza só traz confusão
toda vez que ficamos com a convicção,
escapamos de ser poetas
o poeta não coloca o pingo no “i”,
porque o “i” não precisa disso
quando muito o poeta
toma uma pinga
e sai por aí
o poeta é o eterno namorado da dúvida,
ele tem uma dívida
que sabe que nunca poderá saldar,
embora permaneça tentando
por isso troca sempre de Diva –
a quem dedica uma ode,
um soneto ou uns versos desbotados
o poeta se sente assustado
diante da certeza,
quando ela é o prato principal
sobre a mesa
ele não se dá bem com a conclusão
porque sabe que se chegar a algum lugar,
ele acaba, pois não haverá um buraco
por onde possa escapulir
o poeta precisa ser maior
do que o existir, pra que prossiga
no rumo a sua alquimia e seja
impossível a dilaceração do sonho