QUE FESTA É ESSA?

QUE FESTA É ESSA ?

Orações do Ano Novo 2012

Pedi pra sorrir,

Me fizeram chorar.

Pedi para amar,

Me fizeram sofrer.

Pedi pra respirar,

Queriam me afogar.

Eu pedi pra viver,

Me fizeram morrer.

Eu não queria ir embora,

Me jogaram pra fora.

Eu não pude entender

Minha razão de viver

Eu não pude lutar

Contra a força do mar.

Pra ficar no meu lar

Que festa é essa

Onde muitos ficaram a chorar ?

Que festa é essa

Com água à beça

Afogaram meu natal

Papai Noel se deu mal

me pregando uma peça

Com muita promessa

Dizendo-me, corta essa !!!

Que festa é essa que chamaram de Natal

E os sinos diziam que estava tudo legal

E sem aviso, sem sinal

Recebemos de presente

Rios, ruas e praças alagadas

O espetáculo das enchentes

Das vertentes

Pessoas desesperadas

Se sentindo culpadas.

No meio do lamaçal

No janeiro infernal

Daquele mural

Perdi meu berimbau

Jogaram meu texto,

No cesto

No fundo do meu quintal

Falta lisura, compostura

Sobra censura, diabrura

No endosso da travessura

E com tristes badaladas

Foi antecipado o carnaval

De um poder colossal

Assim se fez a vontade divinal

Onde muitos perderam seu lar

E até mesmo a casa de orar

E onde muitos ainda estão a boiar

E com muita água para enxugar

Com barrancos deslizantes

corridas estressantes

Favelados navegantes

Vidas trepidantes

Desesperei, Rezei, orei,

Pedi por tudo que é santo Rei

Dízimos a vida toda doei

E de repente sem teto fiquei

Enterraram meu pé de manga

Nas águas do rio Piranga

Enterraram meu barraco

Pelo meu desacato

Sumiram com meu sapato

No trenó de um gaiato

Aponte-me a ponte

Afogada, alagada

Pela água que arrasa, na Raza

Aponte-me a ponte, branquinha

Chamada Barrinha

A nova rainha do fim da linha

Aponte-me a água da fonte

Ou a que me escorreu pela fronte

Do morador do Sapé

E lá no alto da Volta do Gato

A arca de Noé

Daqueles que não têm mais fé

Onde a água ainda dá pé

Moro na correnteza

Do Rio da minha tristeza

E na fartura da lambança

De um mar de lamas sofrido

De um rio Piranga agredido

Porque não pude ficar

Porque fiquei sem lugar

Eu pedi perdão, implorei solução

Abri meu coração

Não pedi por mim

Responderam-me não

E o nível das águas

Sufocou o sofrimento do meu irmão

Na boca de lixo do Gavetão

Que festa é essa

Com muita água na minha cidade

Causando infelicidade ?

O velhinho de trenó

No meu acostamento não parou

O bilhetinho não vingou

Pois meu sapato ele não achou

Meu presente não chegou

Uma lágrima pingou

Porque nos meus olhos não ficou

Outra lágrima rolou

E minha garganta deu um nó

Foi natal, não faz mal

Apesar do dilúvio “universal”

Fingirei que estou contente

Na torrente, como sempre

Que festa é essa?

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 11/02/2012
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