Pensando com a minha "pena"...
E eles apenas pensavam que iriam dividir cultura com o "vizinho".
Assim... como quem cede carinhosamente uma xícara de açucar.
Nossa mãe terra é fértil... parideira de guerreiros.
Inocentes guerreiros de outrora.
E eu... ainda continuo a usar o meu cocar
E enfeito-me. E sou negra.
Sejam bem vindos todos... abençoados até.
Mas não invadam a nossa "casa"...
Ela sempre teve "dono".
E ainda sonho que em minha-nossa "casa"
Os filhos da terra usurpada poderão vir a dançar sem muros
A dança da igualdade que aprenderam com os índios.
Na nossa linda mistura... na nossa luta cotidiana.
E que o mundo é apenas um.
E imenso... e rico.
Cabe todo mundo dentro do mundo.
Mas um ponto no Universo. Insignificante.
E eu sou tão utópica no meu mundinho...
Cruzo passos com muitos irmãos africanos pelas ruas daqui...
Coloridos... lindos. Sorrisos alvos e adornos que fixam-me o olhar.
O trabalho esculpido no tronco vendido na Estação Central...
É belo. É triste. Ecoa gritos.
E conseguem esculpir amor no tronco...
Que, um dia, "segurou-os" para o açoite.
Não sei se eu, negra e na "nossa casa", conseguiria...
Parece-me uma espécie de catárse.
Ahh... Não enganem-se.
Não existe "nossa casa" aqui.
Eu choro em lamento...
Quando o nosso povo primeiro, também colorido, encantou-se...
Com os "credos tortos" e os cacos de espelhos...
Que mostravam apenas uma face...
A inocência colorida dos filhos da nossa terra.
E traziam navios carregados de açoite e morte.
Tanto sangue derramado por estes mares... Tanto mar.
Por vezes, pego-me pensando...
E se ainda falássemos em Tupy Guarany
E se não tivéssemos estabelecido contato
Será que, em "nossa casa"... dentro dela mesma
Não seríamos mais irmãos...?
Mas... são apenas umas "más traçadas linhas"...
Desta minha cabeça colorida... de cocar e cabelo afro.
A vaidade humana também é colorida.
E não enganem-se... tenho apenas a pele branca.
Mas a minha alma... é negra, enfeitada e guerreira!
Karla Mello
Fevereiro/2012