SUUM CUIQUE TRIBUERE

Tu que escolheste a hora mais certa

No momento mais certo

Com as letras mais certas,

Tu que apreendeste o sentido das horas

Embora o sentido do mundo

Nunca houvesse proporcionado risos,

Tu que arriscaste a vida em prol do amor

Em tempos de estupidez e ganância

Ou em momentos sem fé e sem cor,

Tu que sempre procuraste a bondade

Apesar dos prós e dos contras

Da tristeza e de cada homem covarde,

Tu que nunca sucumbiste ao delírio

Das horas de dor e de angústia

E ao desalento de qualquer martírio,

Tu que anunciaste a esperança

Com a alma mais pura

Como se ainda fosses criança,

Tu que almejaste à felicidade

Embora apenas houvesse tristeza

Acompanhando teus passos,

Tu que lutaste contra a injustiça do mundo

Embora a guilhotina estivesse direcionada

Inexoravelmente, contra ti mesmo,

Tu que sempre choraste

Tu que sempre pediste

Como se fosses um traste

Como se fosses tão triste,

Tu que sempre quiseste

Tu que sempre sonhaste

Com um idílio campestre

O próprio amor de guindaste,

Tu, cidadão de ferro e de fé,

Que sempre pagaste as contas em dia

Ainda que o dia apenas te trouxesse

Fome e lágrimas quaisquer,

Tu, cidadão de corpo e de alma,

Que nunca sucumbiste à maldade da noite

Ainda que a noite apenas te rendesse I

nsônia e desilusão que não acalma,

Tu, cidadão da arte e do medo,

Que sempre foste ridicularizado

Por seres bom e diferente dos padrões

Que confrontam teu fiel segredo,

Tu, cidadão do sonho de agora,

Ainda que o mundo apenas te rejeite

E leve cada sentimento teu embora

Nunca faças do amor mero enfeite

Nunca percas o destino e a hora

Tu, cidadão desprezado e à margem,

Ainda que o mundo apenas te entristeça

E arranque de ti a dádiva e a coragem

Nunca percas o sentimento e a cabeça

Nunca desfaleças, em vão, na viagem

Tu, cidadão da arte e do bem gratuito,

Ainda que o mundo apenas te agrida

E te aflija em cada combate fortuito

Nunca te esqueças de teu amor pela vida

Nunca permitas que passe a fé num minuto

Tu, cidadão de bem e de paz,

Ainda que o mundo esteja em guerra

E te machuque de modo vil e voraz

Nunca destruas o que há de bom nesta Terra

Nunca corrompas o que a vida te traz

Pois um dia o amor reinará soberano

E fará da justiça a mais sábia rainha de luz

Dando a cada um o que é seu, sem engano

Enaltecendo a verdade que a esperança conduz

E nesse dia em que o amor ocupar o seu trono

Será inútil todo o dinheiro ou título do mundo

Será inócua a vaidade e, enfim, o seu dono

Chorará todas as lágrimas do precipício profundo.

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