PEDRA, PRA QUE TE QUERO
PEDRA, PRA QUE TE QUERO
Autor: Luiz Bento Pereira
Existe a pedra dura
Que a água mole não fura
Assim como a pedra macia
Que em minhas mãos atrofia
Existe a pedra que atirei
Até agora, porque não sei
Ela foi o reflexo do meu medo
Da fragilidade da minha própria existência
Da minha falta de paciência.
Existe a pedra em forma de feijão
que enfeita meu coração
Tem o formato de um grão gigante
Marrom lúgubre de um tom pedante
E cabe na palma da minha mão
Existe a pedra sabão
Em forma de violão
Onde gravei com a minha própria mão
Os versos da minha solidão
E o transformei em canção
Para cativar seu coração
Existe a pequenina pedra que eu chutei
Existe a pedra minúscula que mastiguei
Existe a pedra que no meu espelho atirei
Existe aquela que no seu caminho joguei
Existe a pedra bruta
Da minha razão absoluta
Dos dias da minha labuta
Existe a pedra moída
Areia da minha vida
Em forma de grãos, desprotegida
Arrastando-me lentamente
pelos caminhos de ida
dividida, ou subdividida
Sem despedida conhecida.
Existe a pedra que eu joguei no rio
E afundou com tudo aquilo que sonhei
Existe a pedra que espatifei
Que transformei em pó, sem dó
Levou meus sonhos de bobiça
Em forma de areia movediça
Existe a pedra que me feriu de fato
alojada em meu sapato
Quebrando o encanto do meu salto alto
Ou aquela que me acertou em cheio
E que me partiu no meio
Existirá ainda uma pedra fatal
Com um formato especial
Para o último dos meus dias afinal
O que chamam de juízo final
A pedra ornamental
A tão sonhada pedra filosofal