PACTA SUNT SERVANDA
Todos contratam com a vida pelo menos um dia
Um dia de paz, um dia de glória
Uma casa no sitio, uma alegria simplória
Ou, até mesmo, uma emoção vazia
Todos contratam com a vida pelo menos um sonho
Uns querem amor, outros querem poder
Há os que pretendem fugir do mundo medonho
Há também os que se perdem no labirinto do ter
Sim, a vida permite sorrir, correr, chorar
Ver as estrelas do céu, as ondas do mar
O colorido intenso de um escarcéu de flores
O azul imenso e intrínseco aos sutis amores
Em compensação, a vida avença e exige tudo
Sem qualquer condescendência com os inadimplentes
Faz penhor dos risos móveis, hipoteca dos dementes
Cobra letras e palavras de cada sentimento mudo
Porém a vida oferece apenas contratos de adesão
Não se discutem cláusulas de rancor nem de fé
E até o último respiro ou batida do coração
A vida, credora eterna, exigirá prestações quaisquer
E, então, para que se ame, para que se viva
Não há que se ter em meio à luta somente boa-fé objetiva
Mas qualquer força que clame e apresente na face
A concordância com o pacto que se assina quando se nasce
E, enfim, um dia chega em que a vida cobra com juros
Todas as parcelas vencidas e vincendas de apuros
Mais o montante de risos, lágrimas, e sentimentos sortidos
A fim de que todas as dívidas se liquidem
A fim de que os pactos sejam mantidos.
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