FANTÁSTICO
Eis que surge o universo
Que canto no meu verso
O Silencio do nada absoluto
O Império do vácuo inútil
Da obscuridade fútil
Foi extinto pelo ato impoluto
Do criador astuto
De porte resoluto
Dizem ser
Um todo poderoso
Arquiteto generoso
De porte varonil
Imperador do amanhecer
E das cinzas do anoitecer
Transformou o grande deserto
Num vasto manto azul anil,
Repleto de planetas mil
Fez surgir a luz e a escuridão,
A brisa leve e o trovão,
O leão e o pecado de adão,
A solidão, cúmplice da alucinação.
Inventou também
E todos dizem amem !
A formula da multiplicação,
Mas para complicar
Ou como compensação,
A formula da degeneração
Da exterminação
Controle natural da superpopulação.
Inventou as asas da liberdade,
Mas também as grades da prisão
Sinais da transformação
Enigmas em profusão.
Foi inventado o negro da noite
Foi criado o negro pro açoite.
Que surja o doce do mel
Mas também o amargo do fel
Que venha o esplendor do amor
Mas haja também o furor da dor
A fartura que não dura
A tortura da ditadura
O amor, misturado com a dor !
Que surja o Beija Flor
Para bailar,
Pairando no ar,
Mas que não saiba cantar.
Que roube da flor,
Que enfeita o céu,
O mel
Eis que surgiu o universo
Que agora canto no meu verso,
Ou no âmago do meu reverso
Não se sabe, desde quando,
Essa inteligência dita suprema,
Esboçou seu complicado teorema
Criando essa grandeza extrema
Inspirando esse meu poema
Grande obra enigmática,
Bem no estilo, pragmática
De estrelas reluzentes,
De regras naturais contundentes
Com luzes e fé intermitentes
Com seres vivos reticentes
Muito pouco inteligentes !
Somos parte desse mistério gigante
E de um sectarismo pedante
De um sofisma vibrante
E de um misticismo estafante
Ou de uma fé cega aviltante
De uma espécie degradante.
De ambíguos amigos
No espaço perdidos,
Como abutres feridos.
Somos humanos sofisticados
Bem dotados,
Disputando a supremacia
Da ideogenia
Com a agonia
De outros seres animais
Ditos irracionais
Provocando a inércia
Dos minerais,
Destruindo vegetais
E nos intitulamos racionais
Rompemos com a humildade
Com o senso da coletividade
Eliminamos covardemente
O instinto da solidariedade
Assumimos definitivamente
A propriedade
E fazemos brotar
Em nome de um deus
A indignidade
Compramos a felicidade
E oramos pela eternidade.
Amém nós todos,
Mas nem todos dizem amém
Ou ainda aqueles que dizem,
Não são ninguém
Projetamos no espaço misterioso
Nossa insolente ignorância
Nosso alarido estrondoso
Nosso recado pomposo
Duvidoso,
Ganancioso,
Sem qualquer substancia,
Sufocado na ânsia
Uma oração
Que não é do fundo do coração,
Ou uma reza
Que é somente para quem se preza,
Que se traduz como uma praga
A quem se despreza.
Somos pequeninos seres
Em busca de justos prazeres
Jogando na fonte da sorte
No grande palácio do esporte
A esperança que importe
Na vida depois da morte
Melhor ser agnóstico,
Do que ser um crente pernóstico
Melhor ter consciência
Do que pedir complacência
Ou postular indulgência
Melhor estender a mão
Do que pedir perdão.
Melhor não iludir e nem ferir
Melhor não mudar de cor
Que nem um camaleão
E onde não exista carinho
Que também não haja ninho
Melhor morrer de verdade
Sem a menor vaidade
Sem auto-piedade
Melhor morrer para sempre
Do que morrer decadente
Com medo da chama ardente
Embrulhado para presente
Sem destino convincente
Na carona de uma estrela cadente.
Melhor morrer exultante,
Plantando nesse grande jardim
Único palco, com inicio e fim
Nossa pureza ofegante
De ignorante obstante
Levando amizade sincera
Que dos amigos se espera