Às vezes... (Sextina)...

Falo tanto... Sim, falo tanto... E quase
Não consigo dizer o que devia.
Tenho real vontade de falar...
A voz sai e não falo, nada, nada.
Minha fala é tão muda, tão sem som
Que acabo me escondendo até de mim .

Foge a sonoridade e, fico assim ...
Procurando um refúgio, uma base.
Sufoca-me a mudez, o semitom.
Então, a imensidão me contraria;
Gritar, pular, chorar é palhaçada.
(É a vontade retida a me agastar.)

Às vezes, eu pareço desmoronar;
Penso que caio como o zepelim...
Ardendo na fúria da fala calada.
Na minha mente procuro uma frase
Que desperte a fala e não seja fria,
Que qualquer um aclare qual neon.

Tento captar em mim o belo dom:
Com a fala poder versificar,
Compor e declamar sem atrofia,
Cantar versos ao som de um bandolim;
Envolver minha voz na fina gaze
Soltá-la livre, forte na geada...

Às vezes, meu falar é qual linhada:
Sobe ao céu, se transforma num pompom
nas mãos d’uma criança,feliz, no êxtase.
Deixo então minha fala se arrastar...
Fica uma marca doida... tão ruim!
( Não quero ter nenhuma regalia.)

Às vezes sonho e, nele há magia...
Nele eu falo de forma iluminada,
Falo do meus projetos; ponho ênfase,
Firmeza em meus lábios sem batom;
Ouvintes formam lindo e imenso mar
Que leva meu barco para um Jardim.

Falo e quase não consigo o que devia.
Com vontade a voz sai, fica voz, alada.
Solta, ela cria o tom, cuida de mim.

MVA
Enviado por MVA em 03/02/2012
Reeditado em 03/02/2012
Código do texto: T3477337
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.