Edvard Munch - Madonna
Que sequer houve a delicadeza de proteger minha nudez exposta?
Pois se tive que atravessar a noite densa e escura em solidão,
Apoderar-me de uma prece que me permitisse suportar o dia intenso,
E assim preservar o que deixaste sem o mais breve e remoto cuidado!
Não foram negadas ternuras que julgaste estarem aquém de mim,
Pressupondo que me conhecias e não me consideraste à tua altura?
Agora, eis que tu tens a pretensão de ser a vítima da sua própria altivez!
Não demoliste com tuas mãos meus sonhos por um abreviado prazer,
Por um átimo da tua vaidade ensandecida por desejos ínfimos e efêmeros?
Se meu verso é torto aos teus olhos e minha prosa invertida de formas,
Não me transfiguraria num falsificado eu para enredar-te numa fantasia,
Uma alegoria que não sou e nem seria para um capricho em desvario.
Assenhorada dos meus sentimentos, asseguro que perdeste o rumo!
Desabitando teu querer abandonaste, o direito de te apossares de mim.
Perdurando no que eternizar, de formas outras, não mais terás minha essência.