Os Mil Corpos
Amanheceu, e todos acordaram mais velho,
Não se lembravam mais de como era a textura de sua face.
O sol também nasceu mais velho,
Assim como as flores, as nuvens e a chuva.
Era estranho,
Mas todos agiam como se nada mudasse,
Mas tudo estava diferente, o mundo era outro,
As pessoas eram outras, mas tudo parecia o mesmo.
A voz que desprendia-se de minhas cordas vocais,
Tinha um tom estranho, não era assim,
Parece que eu era o único a me incomodar,
Pelas mudanças drásticas do mundo.
Até ontem eu tinha os olhos de uma criança cheia de vida,
Hoje porto os olhos de um velho cansado,
Mas não lembro de abandonar a juventude,
E antes que algo pudesse fazer,
Estava preso a velhice.
Parece que nesses muitos anos,
Que nem me lembro de viver,
Minha alma migrou por vários corpos,
E hoje descontente me contento,
Sabendo que jamais amanhecerei no corpo,
Que eu pensara ser meu para sempre.