Regente insultado

I

Já fui rico o suficiente para considerar meu busto e face

meu simbolo, na possibilidade do infinito, algo augusto

e tentei ser um governador do povo: alguém bom, justo

exercendo o posto mais adequado a minha futura classe

Eu nunca questionaria em usar a guerra como um custo

para resolver algum tipo de choque e qualquer impasse

pois é na injustiça que um homem injusto em vão nasce

e dos crimes mais sanguinários o ditador cresce robusto

Como eu não percebi que foi desta minha forma tão vã

que eram postas em práticas aquelas alucinadas teorias

que fora escritos um tempo atrás, no tratado de Leviatã

Enfim, somos uma espécie gigante de clã

todos juntos nesta sempre original familia

todos aqui somos irmãos, com a sua irmã!

II

Mas o sol tem se posto por sob a sepultura

de todos bons herdeiros desta nossa cultura

hoje eu gasto o estoque das minhas fortunas

tentando ir remover essas altíssimas colunas

Mesmo ela suportando as minhas belas crias

e fico aqui a sorver o ópio de uma lembrança

dos meus mais loucos tempos da Era Criança

para ir ajudar-me a normalizar minhas manias

E, mesmo se louvores eu tivesse obtido,

misturei-as com mais melosas melodias

á penetrarem, bem no amago do ouvido,

entristeçendo a passagem dos meus dias

Não sei porque exatamente faço isso, por que razão

eu sou um maestro sempre extremamente dedicado

empenhei-me ao máximo para aprender o ensinado

mas tudo que toco é o eco com tristesa e em solidão

III

Eu estaria um pouco satisfeito se não fosse essa platéia

a dizer “escuto isso mas não tenho nem a mínima ideia

do porque essa longa opéra é monotônica, sendo tantos

os instrumentos bem ao alcançe deste cultíssimo maestro

mas ele os rege como se, mesmo sendo talvez ambidestro,

queira tocar no piano somente as notas de nossos prantos”

Fico quase que insultado, tocando para uma geração

que sabe o valor do regozijo, mas esqueçe a emoção

que é parar algumas horas do dia, não para lamuriar

mas para, lendo vários frutos da mais variada filosofia,

perceber como ainda sofre a humanidade que já sofria

alguns pela capacidade maldita de sempre raciocinar!

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 18/01/2012
Reeditado em 18/01/2012
Código do texto: T3446984
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