Por Tanto sou Paradoxo
Um zumbido nos olhos do ouvido.
Um zunzunzun na véspera do ser.
Que de agora para trás tudo vê.
O tecido do meu ser se evapora.
Dormi: durmo há muitos anos.
A minha vida inteira: secreta.
Era do verbo, era do tempo.
Sortes no verbo e no nome.
Tudo porque tenho medo,
Medo inverificável de mim.
Parece que já escrevi isso.
Parece que me repito. Icha!
Ouça, ouça, ouça é o meu apito!
Tudo é culpa e tudo é proibido.
Onde estão os cárceres? Dados.
Sou k de Kafka no processo indefinido e alongado de mim.
Não, não haveria de despertar.
Não me foi dado o peito, Harre!
Venham palavras novas, neologismos, metáforas e sinestesias!
Sou o rente, bem-bem rente ao lógos, logo!
Hei! Hei! unirei sílabas: inicio-me, reinicio-me.
Por avistar, quem? Grande Pessoa finjo que finjo e fingindo crio.
Olhe! as baratas de Clarice estão se jogando em meus lençóis.
O castigo de Dostoievski quer somar pecados dentro em mim.
A tristeza de Cecília rima minha, dedo em riste, de triste só vejo.
A branca cegueira de Saramago é edipiana, tediana, nodiana e credos e credos!
Mentiras: minto tanto, em madrugadas, sobretudo.
Minto a mim e ao manto que me cobre de pranto.
Minto sóis e estrelas e amanheceres, dias e dias.
Mas, onde estou eu? Que lado? Estou múltipla? Parece que durmo... Ah...clarear. Ar!