Pensamento
Pergunto-me se sou minha,
Se sou de alguém,
A quem pertenço.
Só o que sei é que
Tenho a sensação
De não pertencer
Desde criança.
Não pertencia à família,
À minha vontade,
Aos meus objetos,
Aos meus planos.
Fui levada de um canto a outro
Pelas senhoras do destino
As parcas ou as moiras.
Mas foi tudo muito cruel.
Levada de lá para cá
De cá para lá
À vontade de sei lá quem.
Estava no leito agonizante
De quem eu amava.
Nos hospitais a cuidar
De manter viva uma pessoa adorada.
Me via envolvida no olho do furacão
De lá para cá,
De cá para lá,
Onde de mim precisassem.
Hoje me pergunto a quem pertenço
Talvez eu já tenha a resposta
Pertenço ao meu pensamento
Este sim, um ser autônomo.
Ele vai e vem
Eu não o domino.
Como não pertenci a mim mesma
O pensamento também
não me pertence.
Ele domina minha vida,
Me inclina a amar,
Odiar e perdoar,
Sofrer e sorrir,
Chorar e secar lágrimas.
Oh, pensamento tolo,
Deixe-me por uns instantes
Para que eu possa
Mesmo de forma ilusória
Julgar que me pertenço.