TRECHOS INVOLUÍDOS DE POEMAS FUTURAMENTE ESQUECIDOS - III

- I –

AO SABOR DAS CIRCUNSTÂNCIAS...

vindo do nada, só pode

acertar-te algo que não sentes

às reentrâncias:

as circunstâncias inconseqüentes

- II -

ESTRELAS E POESIAS

entourido de impendentes

crente, distende-se o breu da noite

ele dissipa certezas e fatos

ele apresenta às estrelas,

nos entreatos,

o estrondo de, n’uma poesia,

eu poder senti-las vivas.

- III –

FALTA DE GLAMOUR

olhar-me ao espelho

incomoda-me

tanto quanto

estar por dentro

dos reflexos sem nexo

da moda

- IV –

ANAMNESE DA AMNÉSIA

tudo o que não tenho:

eis tudo o que tenho

(ao menos, disso, sei)

- e, se bem me lembro,

nada há de haver nisso

a bem-lembrar.

- V –

TRÊS VEZES AS DORES DO PEITO

Existe um barulho

Um marulho destrambelhado

Que balança os arrulhos o peito

Um vazio fez-me engulho

De espadagão trespassado

Que abonança o calor do peito

Pouco sei deste bagulho

De coração desembestado

Que entrança o furor do peito...

- VI –

IMPASSE

Sigo-te o grassar dos passos

Quase te amando

Quase te sorrindo

Quase me revelando

Quase indo embora...

- VII –

ESPELHO SEM IMAGEM

não quero ser exemplo de nada

ou inspiração para alguém

não pretendo deixar lições boas ou ruins

contento-me em ser um espelho estilhaçado

porém de cacos finos e penetrantes

às factíveis luzes de lanternas apagadas...

- VIII -

AQUÉNS E ALÉNS

quero para mais além do meu aquém-mar...

brisas de exalar uma impossível estética

a desvelar uma ética

que transpire liberdade

por todos os poros

- IX -

SORRISO NA BOCA

Se um sorriso maroto pousa

Na boca da noite

É porque sua língua ousa

Lamber a nuca

Da face escusa da lua...

- X -

LEGADO DAS DÚVIDAS

o toque tosco

a tez esburacada

o palavreado fuzil

a parva mão pesada

pregada ao corpanzil

das dúvidas consagradas

o versejo azedo, o ardil

deixa um legado

: tudo pode beirar o nada...