UBI VERITAS ?

Entre tantos segredos da alma,

Entre tantos labirintos de ventos,

Onde estaria o sonho que acalma ?

Quem desataria o nó dos momentos ?

Entre mil estrelas cadentes,

Entre mil corações desfalcados,

Não estariam as verdades doentes ?

Quem não olharia para todos os lados ?

Entre furacões de um amor sem medida,

Entre sensações de uma paz desvairada,

Confesso, eu fiquei assim, entretida,

Com a verdade contida entre o tudo e o nada

E tu, que sempre desafiaste o tempo,

Como náufrago nos sonhos mais puros,

Não duvidaste de ti nem do vento ?

Não percebeste na verdade mil furos ?

Sim, tu, que dançaste nas intrépidas nuvens,

No tom da orquestra dos sentimentos sublimes,

Por acaso, encontraste a verdade, em ferrugens ?

Não percebeste, a verdade cometeu tantos crimes...

Entre risos e lágrimas de vida fugaz,

Entre rios e lagos de morte indolente,

Meu Deus, a verdade nunca olhou para trás

Em seus tantos cais entre o céu a mente !

Entre trovões e chuvas de sonho sem fim,

Entre colchões e luvas de um mundo adiante,

Sinceramente, a verdade fingiu sempre, assim,

Disfarçando a essência do medo gritante !

E tu, meu amor, que sempre quiseste

Um mundo mais justo e menos impuro,

Sempre procurando verdade de oeste a leste

Enquanto querias amar, num porto seguro,

Tu, meu amor, que corajosamente enfrentaste

As horas de dor em cada angústia sem dono,

Como se fosses um réquiem, um simples contraste

Da verdade inaudita, rainha sem trono,

Verás que um dia a verdade é espelho

Refletindo na alma de quem enxerga a si mesmo

De fato, um fóton de sentimento vermelho

De resto, um fato que vaga a esmo...

Também verás na amplidão dos teus sonhos

Uma bússola incauta que guia nos ventos

E perceberás como são, assim, tão medonhos

Os fatos que voam ao sabor dos momentos

Sim, meu amor, entre tudo e nada

Existe uma lenda que se chama verdade

Uma história sem fim, um conto de fada

Um cometa vagando entre o bem e a maldade

Não me culpes, amor, não me chames de herege

Por dizer que a verdade tem mais de mil faces,

Fascista, faceira, tão branca ou tão bege,

Conforme o ângulo de teus sonhos vorazes...

Tampouco me julgues, amor, por estes versos

Desenhados no âmago de uma alma imensa

Que contém em si mesma mais de mil universos

Refletindo nas nuvens uma angústia tão densa...

Entre letras e tempestades de esperança,

Entre palavras de dor que cruzam espaços,

Como será a verdade, adulta ou criança ?

Com serão, na verdade, nossos esternos laços ?

Entre sonhos e sentimentos de universos distantes,

Entre segredos e sombras de galáxias pretéritas,

Meu Deus, onde estão os versos de antes ?

Onde estará, enfim, a verdade? Ubi veritas ?