CONTRA SENSOS...

Não. Não gosto.

Não gosto de nada morno.

Prefiro o frio… do inverno… andar nua.

Prefiro o quente… do verão… com vestido longo.

Não gosto de muro… ficar por cima… vagabundando.

Gosto de cair do muro. Caio sempre.

O crédito… leva-me pela mão.

Não gosto de partidos… políticos…

Mas gosto de partidos… opiniões.

Coração partido… gosto também.

Tornam-nos sábios… frágeis e fortes… num só tom.

Não gosto de olhar sempre a minha “cara”.

Só tenho “uma”. Ainda bem.

Há quem tenha “duas”… dizem que é para “variar”.

Não gosto da mesmice… ando na contra-mão do comum.

Não acompanho modas… nada de unanimidades…

Não gosto de nada reto.

Só o caráter… é fundamental e basta.

Gosto do básico… andar descalça… camiseta branca.

Gosto de espaço… do “clean” e do “up”… mas nem sempre estou.

Mas livre mesmo… só quando estou “nua”. E só.

Gosto do espelho… sempre diz verdades.

Não gosto de metade… só quando faz-me inteira.

Não gosto de nada pouco… só comida… e sono.

Como pouco e durmo muito pouco…

O muito destas duas porções… faria-me perder tempo.

Mas das risadas… gosto das gargalhadas… francas… fáceis…

Nada comedidas… as dos salões hipócritas.

Não nasci para laços de fitas… Gosto das cordas…

dos balanços improvisados no quintal.

Gosto da juventude sem idades… Mas respeito o ridículo…

apesar da sua também relatividade… “filho” das convenções.

Risadas daquelas que vêm do estômago… tiram-me o ar…

Muitas coisas tiram-me o ar… mas prefiro as risadas.

Não gosto da vaidade… só quando passo o batom.

Não gosto do barulho… tenho o dos meus pensamentos…

Ocupam-me demais… mas gosto do barulho da chuva.

E páro para escutar… o barulho que aflinge os que procuram-me.

Gosto muito do branco… e de piano.

Se eu pudesse… vestiria sempre o branco. E tocaria piano.

Se eu pudesse… faria sempre o certo. Mas é tão relativo…

Gosto do solo da guitarra. Do solo de gente.

Da solitude… sempre voluntária. Sou voluntariosa… às vezes.

Gosto de silêncio… cercado de barulhinhos mansos da natureza.

Não gosto do bicho… homem.

Gosto do “meu” e de fazer amor… com o “meu”. E amo os bichos.

Entender-me… desentender-me.. Aceitar… aceitar-me. Ser aceita.

Gosto muito do discordar… mas gosto do respeito.

Não saberia viver em discórdia… mas gosto da gentileza da discórdia.

Da paciência cordial que nela reside.

Não gosto de voar… de avião. Creio inseguro demais.

Mas vôo sempre… ausento-me demais. Gosto muito.

Principalmente quando nas situações em que desinteresso-me.

Vôo… “molecamente” vôo… despreendo-me completamente…

Imperceptivelmente… também.

Gosto do denso… mas sou volátil nestes momentos.

Solto a alma… e ela sorri… para mim. Eu… sorrio para dentro.

Na verdade… “morro” de rir…

Gosto de mim… mas nem todos os dias.

Questiono-me muito… isto cansa-me demais.

Sou muito auto-crítica… não justifico-me… não gosto.

Gosto da maternidade… mas nem sempre pude.

Não gosto de bebida alcoólica… nenhuma.

Mas há dias em que tomo uma vodka… para não morrer.

Não gosto de remédios… prefiro escrever.

Há dias que “provo” poemas meus… frases… mas nem sempre gosto.

Há dias que “provo”… e não gosto nada.

Mesmice… só nesta condição de “provar”, aprovar ou não… como todo a gente.

Mas sob óticas diferentes… por favor.

Desconfio de quem sempre concorda… da permanente concordância…

Quase uma subserviência… perto do “asco”.

“Águas paradas… exalam mau cheiro”.

Na verdade… gosto de tudo o que é dinâmico.

Mas nada de aerodinâmica muito avançada…

Gosto de dirigir carros pequenos.

Viver grande… mas carros… pequenos.

Casa pequena também… e branca… no campo…

Sou nada urbana… mas adapto-me.

Gosto apenas de saber onde estão minhas coisinhas e manias.

Karla Mello

Dezembro/2011

http://karlamelopoemas.blogspot.com

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 09/12/2011
Reeditado em 05/10/2017
Código do texto: T3379619
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