SE...
Se assim não fosse,
como seria?...
Somos fortes, produtos do meio
e fantasiar é preciso.
Quando a gélida
e rufante tempestade da vida está a soprar,
somos o que somos no mais que nos processam,
com compensações vitais, promissoras,
que nos motivam e dignificam o valor real da vida.
O belo, o deselegante, o bonito,
o chato, o cônscio, o promíscuo,
o cheiroso, o repelente, o gostoso, o petulante,
está na razão direta da amplitude da relatividade,
da minha, tua visão.
Gosto de ser o que sou,
mesmo desejando em parte ser o que não sou,
do que poderia, consciente do vir a ser.
A altivez, a intrínseca alegria me faz viver.
Sou riqueza da minha pobreza,
beleza da minha feiura.
Sou andante de pensamento aberto,
o amante de ti e de mim.
Sou fagulha no palheiro,
peito franzino, braços aconchegantes,
fala rouca, ouvidos afinados,
linguagem conflitante na busca do diálogo.
Na erupção vulcânica,
no raio que queima,
no relâmpago que facheia os céus,
no frescor da madrugada,
no aromático da relva úmida,
na beleza singela da pequenina flor,
na luz ativa do meio-dia a sol a pino,
na procura do aconchego no copado da natureza,
inspiro a minha vida.
Sou ancoradouro em terra desconhecida...
Se...
Se assim não fosse,
como seria???
Maceió, 10 de novembro de 1994.