AS COBRAS PEÇONHENTAS DAS HORAS
encaro ponteiros
as cobras peçonhentas das horas
suas viras e voltas
seus ginásticos efeitos
subtraio-me em momentos
do meu couro bruto
os dias, em delgadas ripas
minuto a minuto
resoluto, suporto firme
o despelar de cada tira
de miséria, de glória
(uns filetes das minhas pressas
das minhas demoras)
pois vaguejo nessa dor
de acarar-me sem espelhos
e carente da memória dos erros
feito um preso, entrego-me
e submeto-me ao tempo
que me aborta as postas
das costas dispostas
em carne-viva de vida morta