POR AQUI, AQUI MESMO.

por aqui balança o berço do desaconchego,

do erro e da estultícia

a fala anda enrolada de patologias,

a palavra na gastura dos bocejos

pois cá é assim, mas não deveria

: tudo cansa, tudo falha, tudo maleficia

por aqui, qualquer esquina

alcunha-se de universo

o olhar cega-se na rota fantasia

e a assonância na verbiagem

o céu só reage azul - se há lado, a face é sul -

das pedras lisas exige-se o jade

por aqui reina o mutilante vislumbre

do deslumbre

mais o sentimento delicodoce,

a voz rachada que destroça embargada

em algo que, se confessa, só pode ser atroz paixão,

e se chora, ah, é nostalgia mal-assimilada...

por aqui a saudade se coça,

se sevicia das costas da patifaria

o majestoso ferve e ancora,

a mão, em malícia, aporta,

desconforta o coração descompassado

que destoa nessa tosca epifania

por aqui amantes são mais comparsas,

acordes, farsas que abortam em transes

o passado perde-se nos seus instantes,

o futuro morre na falta de alcance

grafam-se traços sem vento,

declamam-se versos sem sopros

por aqui tudo é uníssono e maçante,

arquétipo de desalmado balouço

de abrir-se a boca, vê-se logo o beijo,

a língua decepada seca de degredo

(atônita de aridez e espanto, pasma

do quanto há tanto aqui de tão pouco)