A vida é um canivete suíço
Na sacada do prédio, depois de um longo dia de trabalho, dois velhos amigos bebem um scotch, fumam um charuto silenciosamente. Até que Ariel fulmina seu amigo com uma pergunta de extrema complexidade:
_ Amigo, me diga, o que é a vida?
O amigo espanta-se com a questão, mas logo pensa em uma forma de responder.
A vida...
the life...
das Leben...
la vie...
la vita...
la vida...
É curta, e longa.
Queima como fogo,
derrama feito água,
foge por entre nossas mãos, como o vento.
Está sob nossos pés e sobre nossas cabeças.
É rica e miserável.
É real e ilusória.
Alegre, triste, promíscua, avarenta.
Faz sentido se for dado um sentido,
e não faz sentido por padrão.
É o sol das manhãs, a lua cheia das noites,
é o furacão, o terremoto, maremoto e as nevascas.
A vida são as plantas, os bichos que restejam,
os bichos que mamam e os bichos que voam.
A vida é um meio e um fim.
A vida é algo que não cabe na sua definição.
Algo que não sabemos ou entendemos.
Ela é o presente, o ato.
A vida não é lembrança, talvez...
A vida é uma improbabilidade estatística. É um acaso. Para muitos, um desperdício.
_ Para quase todos, se permite a interrupção.
Talvez não um desperdício.
Prefiro dizer que a vida é um canivete suíço.
_ Hã?! Como assim?!
Tem dezenas de funções e você não usa e não sabe usar várias delas!
Ariel olha o pouco de horizonte que consegue por entre os prédios e suspira admirado.
_ Uau...
O silêncio toma a sacada do prédio novamente.
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