Humana Ambição
Faz muito frio nas invernosas noites
Mas dentro das imponentes mansões
Não se sente o frio das ruas.
Enquanto nas ruas são açoites
As rajadas de vento que enrijecem emoções
E alimentam as utopias nuas
De quem almeja uma vida melhor e mais quente
Que seja igual e justa para toda a gente.
Mas o que não passa na cabeça dessas pessoas
É que o Sistema é uma ave de rapina
Disposta a saciar-se de forma insaciável.
E o alimento subserviente são estas presas boas
Genitoras e geridas por esta monstruosidade tão ferina
Inerte ao apelo tristemente lamentável
Daqueles que para si querem justiça
Mas têm a desigualdade como premissa.
A noite é cruel para quem não tem nome
E a solidão é motivo para o ópio, o ócio e a maldade;
Fatores que conduzem a um beco sem saída.
Mas nas mesas fartas não há fome
Pois os que a ela sentam são construtores da realidade
E alimentam com cada migalha de sua mesa caída
Os seres que se aceitam inferiores
E depois reclamam tamanha falta de pudores.
Porém, para calar as bocas famintas
Dão-lhe pão, circo e amargo vinho
E assim o Sistema faz-se sempre presente.
Enquanto nas esquinas, por mais iguais e distintas,
Respira-se da prostituição o falso carinho
Nas mansões ri-se de situação tão deprimente.
É a ironia covarde dos que vivem no poder
E alimentam-se do subserviente sofrer.
Madrugada adentro a noite avança
E muitos dormem em solenes leitos
E a outros restam frias camas.
Os sonhos para uns são esperança
Ou pesadelos que magoam seus peitos
Diante de quem não se incomoda com os dramas
Dos que não têm o que comer e onde dormir
E muito menos a certeza de um porvir.
O dia chega com o sol surgindo no leste
Mas a rotina é um círculo vicioso
E nada muda em mais um dia de existência.
O Sistema continua cruel como uma peste
Alimentando-se de sangue e suor, ato inescrupuloso
Que encontra respaldo na humana demência
Geradora da miséria, desigualdade e desunião;
Cuja semente é a Humana Ambição.
Cícero