Os grilos e o louva-Deus
Ouve-se um grilo no porão da igreja,
Uns dizem que canta, outros, que chora;
Será que algo de Deus, o bicho deseja,
Quiçá, do seu jeito, o inseto até ora...
O fato é que ressoa seu agudo apito,
Tal que adentra na nave principal;
Será que chegam a Deus seus gritos,
Ou é clamor oco, do pobre animal?
Nossos grilos também são clamores,
Mesmo contidos,silentes, só nossos;
As almas pelejam por seus pendores,
Assim como os cães farejando ossos...
Detidos segredos em cadeado férreo,
Assim, impossível que alguém socorra;
Se não pudermos guindá-los ao térreo,
Carece que desça, uma luz à masmorra...
Nos cantos escuros, bichos em levas,
Daqueles que preferiram a Barrabás;
Avessos à luz, andejam nas trevas,
Por mais se adequarem às obras más...
Agora já aliviado livrei-me daquilo,
Dedetizado, Cristo e os meios seus;
Na verdade há um bicho, não, grilo,
Antes, um feliz, e vívido louva-a Deus...