QUESTIONÁRIO METAFÍSICO

Mergulhaste nas aspirações humanas

E se afogaste, pasmo, nos devaneios vis ?

Andavas, ao acaso, em ilusões tão planas

Que não viste o vento como o tempo quis ?

Procuraste a chave da felicidade

Ainda que a alegria não tivesse porta ?

Escondeste, um dia, tua própria idade

Entre a cruz tão viva e a luz tão morta ?

Torceste, frenético, por teus ídolos imortais

Como se eles não fossem só de carne e osso ?

Ou, então, quiseste ser uma estrela a mais

A ser, um dia, despejada no buraco insosso ?

Como enfrentaste a escuridão das horas

Em meio ao labirinto de teus sentimentos ?

Por acaso, compraste emoções e auroras

Nas promoções das lojas de departamentos ?

Perguntaste, um dia, por que vieste ao mundo

E por que te condenaram à existência ?

Por que tu rias se, no âmago profundo,

Choravas, refém, por dentro da aparência ?

Por onde andavas, enquanto teu espírito clamava

Por amor sublime e um sentido à vida ?

Ainda não tinhas enfrentado a tristeza brava

Que fulmina no sonho qualquer vã saída ?

Ah, se tu és mesmo adepto da condição humana

Ou, talvez, um dia, pretendas conhecê-la

Toda vã pergunta que te parecer mundana

Transformar-se-á em uma só estrela...

Um réquiem de luz guiando, metafisicamente,

Como lídimo farol da mais sublime essência.