Meu bem, meu mal
Essa dualidade da alma sob a capa,
É charada até, para bom entendedor,
De uma hora pegar crocodilo no tapa,
Outra enternecer, contemplando uma flor.
Tem dia que nenhuma planície é plana,
E em qualquer moita se faz cacaca,
Ignoro o aviso; “não pise na grama”,
E faço melhor,(ou pior) pisando na placa...
Tem outros que a alma adestra o instinto,
E sensibilidade plena, pulsa na veia,
Afasto o gavião enquanto come, um pinto,
E até solto o inseto que agoniza na teia...
Não solto, contudo, meu animal por inteiro,
Aprisiono a fera, deixo faminta como veio,
Quando sei que não estou no meu dinheiro,
Ao menos não gasto, o dinheiro alheio.
Essa fatídica mistura de água e cicuta,
É sorver um gole, e tá feita a besteira,
Tem dias que evangelizo uma prostituta,
Outros que sonho, comer uma freira...
Fazer um apelo ao meu pai é o que resta,
Já que persiste essa ambigüidade,
Que não canonize a metade que presta,
Nem lance no inferno a outra metade...