Do frio, da antivida e do filtro da alma

[O som da TV ao fundo]

Ando discutindo muito com meu estado

E me arrepiando pouco, quase nada

Me excitando com cada vez menos tempo

Hoje a coisa anda tão antivida

Que ouvi o frio sussurrando...

Esse medo gelado, atravessando a garganta

E ninguém sabe onde vai parar

Ou, ao menos, eu não sei

Às vezes não sei de nada

E está tudo na ponta da língua

Tanto que arde, por que mudar de assunto agora?

E por que ainda ter assunto?

Mais fácil o óbvio?

Ou não?

Perguntas com respostas cabisbaixas...

Nunca me ajudam em nada

Prefiro relatar o que eu mesmo vejo

O que eu mesmo provo

Disponho dos meus próprios ensejos

E com minhas próprias vitórias

Mesmo que secas do sol

Mas, juro por Deus, sobre todo o amontoado de derrotas

E ainda apontando para um “indo bem”

Imagine que toda chuva seja ácida

E que todo mundo está sem casa

Agora imagine que você não está nem aí

Esse tipo de insanidade tem me tirado o raciocínio

Mas eu “estou aí”...

E no fundo, no fundo...

É isso que me acaba

Estou tentando me ignorar

Mas como calo algo que vem de dentro?

Você pode cortar a língua da opressão, quase sempre

Mas jamais calará o seu próprio entendimento

Ou a própria falta dele

O que vem de você, só de você quer se alimentar

Por mais que seja impressionante isso que vou dizer:

“O máximo que podem ter de mim... é a ressaca de uma alma ébria, solitária, confusa, cansada... e com saudades demais.”

Tento filtrar... tento esconder

Horrível é ser julgado

Eu tento a casa, eu tento o amor

Eu tento a sorte, e tento a dor

Pais, coração, azar, intensidade

Onde vai dar?

Onde já estou?

Será que já estou onde vai dar?

Eu queria não precisar pensar nisso tudo.

Daniel Sena Pires – Do frio, da antivida e do filtro da alma (03/11/11)