O Ser Ator

 
Algum dia hão de notar que, ser ator,
É muito mais que ser;
Muito mais que sentir, que viver:
Que é muito mais que se conhecer;
Que se achar e se perder.

Enquanto não deixar o glamour de lado,
Todo ator estará fadado a não ser artista
E a tornar-se, por fim, um grande egoísta.
O Excêntrico egocêntrico que mira a fama,
E mira tudo que há de vão,
Não deixando sobre o mundo a sua impressão
E sequer nenhum legado.

Que tipo de ator pode ser aquele
Que não se iguala à raça humana,
Querendo se julgar a ela superior?
Que tipo de ator pode ser aquele
Que não se repara a cada instante
E não avalia seu eu, mesmo que em sua estante, 
Procurando até por entre os versos de Dante,
Algo novo que novamente o transforme e o encante?

Não terá este ator o toque de Midas.
Jamais entenderá de vidas,
Nem poderá representá-las.
Visto que no seu interior não haverá espaço
Para entender de gente simples e humana.

Ser ator
Será tão somente estar sobre um palco,
à trabalho em cena?
Será sentir-se alvo de sua própria dor
E, vendo a desgraça da derrota,
Não enxergar-se noutra cor?
Será também conseguir sentir de si somente pena,
Orgulho de beleza própria,
E implorar ao público o seu clamor?

O ser ator
É, antes de tudo, aquele que respira o amor;
O amor pelo espetáculo
E por todas as cenas.
O amor por quem está com ele no palco
E pelos demais que o permitem que ali se derrame
Tanto coisas grandes, como coisas amenas.
O ser ator é aquele que há de tornar as trevas dos olhos do público
Em focos de luz e beleza plenas.

Ser ator é não viver em clandestinidade.
É se permitir, através da humildade,
Infiltrar-se na vida de outros
E abrir as portas para que a vida dos outros
Seja a nossa faculdade.

Ser ator é ser amor e generosidade;
É ter calor e, acima de tudo, humanidade.
É nunca entender-se como um ser sublime;
Mas simplesmente como aquele que exprime...
E imprime e imprime!
 
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Oscar Calixto
Enviado por Oscar Calixto em 29/12/2006
Reeditado em 02/11/2024
Código do texto: T331384
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