Entre a igreja e o bordel

Um edredom com as cores do Grêmio,

Cobre o sono que o time me tira,

E uma estante repleta de prêmios,

Laureando um campeão de mentira.

Ouro de tolo dá em qualquer mina,

Simulacro esconde o que deve sumir,

Pegue um mudo, embale com batina

E muitos sentarão, apenas para ouvir...

Entre o gemido por afeto ou por pão

Ainda prefiro a sorte que é minha,

Se bem que um homem só, fica na mão,

E ninguém solidário, dá uma mãozinha...

Oceano afaga bem mais que uma sereia,

Uma que está livre vem nadando pra mim,

Farei minha lábia, envolvente qual teia,

Pelo menos agora, fantasio assim.

Pior que voejam mariposas não do agrado,

E beber agora, é ressaca certa, depois,

Vejo-me tranca-rua, carro mal estacionado,

Que por falta de jeito, ocupa lugar de dois...

Noutros tempos não resistia esse tanto,

Bem lembro que era apressadinho,

Um sachê de Mumu me olhava de canto,

Eu cortava um canto e sugava todinho.

Mas convém que se aprume a coluna e seja,

Fugitivo da sorte madrasta de outro “fiel”,

Que passou os seus dias dentro da igreja,

E cerrou como veio, nu, em pleno bordel...