AOS QUATRO CANTOS

Combativo ao medo,

pelo horror

do que descreve,

sobrevive.

Seu destemor é perigoso, nocivo.

Ele, um delator cerimonioso

das palavras recusadas por tantos.

Pois

até o respirar natural,

algumas vezes,

dá-lhe certo nojo.

Sente que gozar a vida

também pode ser

escarnecimento,

entojo.

Tem plena certeza

de que lhe resta

apenas o deus que o homem

- para suportar o sabor

do próprio fel - criou.

É como, no seu céu,

um encarvoado véu cerrasse

as delícias iludidas

da terra.

Justo é quando

morre nos braços de si

a imortalidade irretocável

dos anjos.

Justo é quando

não consegue mais

evitar a dor injustificável

deste dilema.

Justo é quando

alivia-se na escrita

que, no seu lugar,

sente a dor e grita um poema

aos quatro cantos.