UM RELES ATUM CRU MERGULHADO NO AZEITE

Alheado,

deslumbrado

e mudo.

A música alta no auto.

A chuva que lava

e ricocheteia no pára-brisa.

A janela do motorista arriada.

Trago o vento

e a água

para dirigirem

na estrada comigo.

Conservo no formol

do raro trânsito

um estado de desabrigo

tão estúpido quanto desperto.

Penso que penso d'um jeito engraçado:

"Minha mente, um reles

atum cru

mergulhado no azeite".

Porque agora

inexiste

o tempo exato

para qualquer corrupção,

para o auto-deleite.

Sem razão, acelero.

Tudo de fora me entra.

Nada de dentro me sai.

Rio alto; reajo aloucado.

Seria a vida que vive solta?

Seria a morte que, presa, se esvai?