16º ANDAR
A visão aqui é privilegiada, enxergo quase tudo o que me rodeia;
Carros, prédios cinzentos combinam com céu, onde mal consigo vislumbrar o horizonte;
As marquises não protegem os desassistidos do frio que congela os seus corações e minhas veias.
Do 16º. Andar de São Paulo vê-se um mundo cheio de vazios que me faz lembrar o ontem.
Defronte a minha janela, confronto-me com o meu eu estranho e muito pouco conhecido;
Talvez possa ainda tropeçar no quarto escuro do meu mau menino;
Falseio minha face para me esconder do homem velho que muito me é parecido;
E sofro quando o renego pensando que o domino.
Mal consigo respirar o ar rarefeito;
Mas mesmo assim lanço do alto do meu pedestal uma gaivota de papel;
Quisera poder voar acima das torres que encobrem os meus defeitos;
E poder sentir como pode ser doce o fel.
O 16º andar é mais alto do que o segundo;
Por um segundo penso daqui me atirar;
Mas pra que me tirar desse meu mudo mundo;
Se sei que só eu sei o quanto posso caminhar.
Para mergulhar na intimidade do meu eu mais profundo;
Há de se ter coragem e asas pra voar.
Minhas dores, meus monstros, minhas costas...
Deus só pode ser doido pra em mim se fiar;
Ei vocês aí que torcem por mim, façam suas apostas;
Acreditem ou não, ainda não tenho asas, mas sei que posso decolar.
VIGIAR, VIGIAR, VIGIAR. ORAR, VIAJAR E VIAJAR.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)
16/10/2011 numa manhã cinzenta em São Paulo.