Quem só trabalha por obrigação
                Caminha na sua vida
                        Seguindo o próprio enterro.
 
A mão que dá uma esmola
                 É uma arma assassina
                           Matando a auto-estima.
 
Se me dou, dou a mim mesmo,
                Não uma parte de mim.
                            Sou indivisível.
 
Se vês em mim contradições
                É que não vês somente a mim
                            Mas um universo se construindo.
 
Um relógio marca as horas
                Uma história marca a vida.
                             O que é uma história frente à eternidade?
 
Nada se perde no universo
                Tudo se transforma em outra coisa
                             Nenhuma forma é para sempre.
 
Se eu pudesse entender
                O que estrelas dizem em seus movimentos
                             Não precisaria de uma alma.
 
As multidões que vivem em mim
                 Podem falar diversas línguas
                             Mas todas cantam um refrão.
 
Se falo de mim mesmo
                 Estou falando de você também
                             Pois somos filhos do mesmo anseio.
 
Sei tanto do mundo quanto uma criança
                 Mas tenho o sentido dele em mim, 
                             Como um dedo do pé ou uma afta na língua. 
 
                                                                       ***
 
Walt Whitman(1819-1892), foi um dos maiores poetas da América do Norte. Sua poesia marcou uma fase da histórica americana em que os Estados Unidos estavam construindo sua unidade nacional e buscando, nas realizações dos seus próprios filhos, uma identidade cultural. Os americanos encontraram na poesia de Walt Whitman e nos ensaios de Emerson a base espiritual que precisavam para o alicerce da sua filosofia de vida. Nos seus poemas, Walt Whitman mostra o caráter especulativo do homem moderno, que se vê perplexo frente à complexidade da natureza humana, e ao mesmo tempo maravilhado e orgulhoso por fazer parte dela. Cantando a vida, a natureza e a liberdade, ele tornou-se o arauto do sonho americano. Sua obra poética foi publicada numa coletânea chamada “Leaves of Grass”, onde seu estilo visionário e quase panteísta leva o leitor a voos arrebatados pela imensidão cósmica e ao mesmo tempo a profundos mergulhos na própria intimidade.  
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/10/2011
Reeditado em 25/01/2012
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