O CONTEMPLAR DA LUA
A manhã retalha maus lençóis com faca;
Abstrai as farpas amotinadas do sono.
Depois a mudez mastigada, misturada ao café com leite,
A luz estelar a blefar com a sombra da cortina,
A amputar os fiapos da madrugada
Encravados nos vãos insones do tapete.
Entijolado de luz, um muro caiado de dias.
Escarificado n’um sol, o busto esfomeado das horas.
A claridade futuca e cega o notívago
D’uma gradaria tão alta, tão sem fito ou lugar...
Encrustado no rochedo das auroras, sigo os olhos.
Pelas noites deixei, bem-guardados, os desvarios
: Escondi pelos contemplares da lua
Os meus pensamentos mais generosos.