GENTE QUE PASSA

Tem gente que por aqui passa e não deixa saudade.

Tem gente bonita, mas de uma almazinha vazia.

De um pensamento fútil e mesquinho.

Tem gente feia, maltrapilha e desdentada.

Todo dia tem gente se espremendo em vagões de trens urbanos.

Gente cansada da faina diária.

Por força de um hábito forçado o pudor fora quase perdido.

Corpos suados roçando nádegas fartas.

Oh, Deus! É uma gente cabisbaixa e conformada.

Tem gente catando lixo.

Tem gente comendo e cheirando tudo o que é um lixo.

Tem gente falando, compondo e escrevendo lixo.

Tem gente que ainda namora na praça:

Moça simples, noiva a sonhar com lua-de-mel.

Todas as gentes passam por aqui.

E em passando não reparam em mim.

Lá se vão elas:

Magoadas, felizes ou atormentadas.

Umas gentes pé no chão e tantas deslumbradas.

Vão com Deus ou ao encontro do diabo.

Quem saberá dizer?

Umas gentes que cultuam a beleza.

Umas gentes cujo poder as fascina.

Cuja sensualidade as domina.

Para onde vão tantas gentes?

Vão rever seus amores ou consultar-se com os pastores

para consolar-se das suas aflitivas dores.

Vão-se para copular com os amantes, pois

não há nada mais enfadonho do que o que se tem em casa.

Gentes que vêm para somar.

Que dão a sua graça no mundo para auxiliar.

Todas as gentes passam e algumas vezes eu choro

porque me fazem sentir muita saudade.