A carência discursando

Lá vem a vida ambígua,

Dúvida e convicção, taça escura,

Ora parece que o não, espreita,

Outra, que o sim, faz uma jura,

Instável como filosofia de bêbado,

Uma no cravo, outra na fechadura.

O certo é que o sol nasceu

Mas o dia se esconde sob o selo

Fantasmas assaltam o sonho,

E a dor é real, estranho zelo,

Defesa insana de fortaleza,

Que por ora, é só um apelo.

As neuroses que nos habitam,

O fazem, pois somos normais,

Idos e porvir nos invitam,

E neles derretemos nossos metais,

Responder somente ao presente,

É prerrogativa dos animais.

Ora de volta no tempo, reabre a ferida,

Outra temo que gore o sonho que incubo,

A plebe eufórica me encontra se desço,

E sorumbática enquanto eu subo,

Injetam mais soro na ilusão do apreço,

E eu assassino, retiro o tubo.

Sublinho sentenças sensatas,

Barro as que encerram estultice,

A maçã de ouro em salva de prata,

Fantasio como se existisse,

Só existe essa sina ingrata,

Presumindo real o que a carência disse...

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 16/09/2011
Código do texto: T3222601
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