A carência discursando
Lá vem a vida ambígua,
Dúvida e convicção, taça escura,
Ora parece que o não, espreita,
Outra, que o sim, faz uma jura,
Instável como filosofia de bêbado,
Uma no cravo, outra na fechadura.
O certo é que o sol nasceu
Mas o dia se esconde sob o selo
Fantasmas assaltam o sonho,
E a dor é real, estranho zelo,
Defesa insana de fortaleza,
Que por ora, é só um apelo.
As neuroses que nos habitam,
O fazem, pois somos normais,
Idos e porvir nos invitam,
E neles derretemos nossos metais,
Responder somente ao presente,
É prerrogativa dos animais.
Ora de volta no tempo, reabre a ferida,
Outra temo que gore o sonho que incubo,
A plebe eufórica me encontra se desço,
E sorumbática enquanto eu subo,
Injetam mais soro na ilusão do apreço,
E eu assassino, retiro o tubo.
Sublinho sentenças sensatas,
Barro as que encerram estultice,
A maçã de ouro em salva de prata,
Fantasio como se existisse,
Só existe essa sina ingrata,
Presumindo real o que a carência disse...