A MAIS LINDA DEUSA

Por

Dias e dias e dias

Horas e horas e horas

Um navio aporta

Repleto das cargas

Das chagas

Que uma vida comporta

E descarrega

Mais longas horas

Mais dias e dias

Onde enterro sementes,

Adubo maravilhas:

A tal flor incorrupta

No beiral da janela brota

Uma outra, afoita, murcha,

Tão torta...

Santa água que do céu descai...

Gotas e gotas

Chuvas e chuvas

Trovões e tempestades

A amotinarem os ares

Até arde o olhar e

Olhar e olhar

Que observa o descair

Rompido das obviedades,

Das horas e horas

Dias e dias

Anos e anos...

A campainha enfim toca

Toca e toca e toca...

(Eu não atendo)

Espero o desespero

Do mau tempo arrombar

Ele mesmo a aldrava

Da porta

Eis que surge encharcada,

Irada como o vento,

A mais linda

Deusa do desassossego

Jamais morta!