PIOR DO QUE A REALIDADE NUA E CRUA
aqui é fissura
pior que
a realidade
nua e crua
aqui, nestas linhas,
muita gente sofre e
definha
muita gente
morre sem querer morrer
(mas de tanto discorrer
sobre seu desgosto
como um ente morto...)
nestas linhas
mora uma gente que ama,
odeia,
discute,
aceita,
reclama
bem aqui
transita a turba que
se inflama,
rodeia,
permeia...
uns
de tanta água rala,
outros, de ostensivo
sangue negro nas veias
alguns
exortam mares de mágoa
abrindo a chaga do
com/sem juízo na telha...
... e têm os que
se expandem
e os que se encolhem,
se tolhem
e,
(con)vencidos,
da mentira da dor
que promovem,
se recolhem.
certos e poucos,
para sempre,
somem
(destroçam-se na forma
de comportados dejetos
seguindo normas).
retiram-se esnobes
corpo adentro
do contexto
d'um arredio
poema branco.
outros
de concretos
mutam, resolutos, conformes,
para abstratos
poemas mancos
sim, aqui é mesmo fissura
azucrim
que, ao final,
não tem bem um fim,
mas,
palavra,
música,
sentimento,
ausência,
demência...
...e silêncio...
tanto silêncio...
(a mudez d'um imenso
poema abstêmio)