Instável máquina do tempo
Tem vezes que não falta nada,
Sorte bajula a alma qual rainha;
Inda assim essa inquieta espada
Recusa abrigar-se na bainha.
Aflições nascem de causa obscura,
o corpo erra o passo, mercê do peso,
sofre dores nessa máquina de tortura,
tais, que livre, se porta como preso.
Pode ser que o tempo foi transposto,
E dói a ferida que será amanhã,
Palato prova agora o amargo gosto,
Assim o sente, em seu sôfrego afã.
A razão e seus dúbios comprimidos,
Uns de adoecer outros de lenir,
Ora se faz médico explicando os idos,
Outra, chaga, sangrando o porvir.
Felizes os bichos, com seu jugo presente,
Pretérito e futuro, não os podem mover,
Abstratos aguilhões que a s vezes se sente,
Sendo o único jeito, deixá-los doer.
Sei, basta a cada dia seu mal,
Mas os esquilos guardam umas avelãs,
Mesmo sendo o bicho irracional,
Por um pouco, hoje, sofre o amanhã...