Acho bonito ser feio
Se é belo omitir-se à pensar
seguindo o rebanho do alvitre alheio
pra evitar contender e altercar
mantendo a calmaria no rodeio
me recuso da beleza gostar
acho que é bonito ser feio.
Se é belo deixar dormir sobre o trilho
pra que goze um repouso bem cheio
mesmo com o trem virando a curva
acercando ao errante sinistro sorteio
já não vejo harmonia nesse respeito,
ainda acho bonito, ser feio.
Se é belo copiar tendências fúteis,
loas à mediocridade luxuoso enleio,
adornando carcaças de almas sujas
dividido por muitos esse rateio,
prefiro a sobriedade de antigas vestes,
talvez até seja, bonito, ser feio.
Se é bela a imposição das massas,
o “politicamente correto” creio,
tolhendo o anelo por setas eternas,
pra onde vai, de onde veio,
exigir mentiras como respostas
prefiro a beleza de ser feio.
Beleza, sei, é mensura da alma,
inerente a todos, esse anseio
uns a vêem em receber palmas
mesmo distantes, pelo correio,
outros a acham na contramão do mundo
o diamante inda no carvão, por ora feio.