A memória é um porto

A memória é um porto

em constante movimento,

uma via de mãos múltiplas

para quaisquer pensamentos.

Talvez um ponto de partida:

e os seus quantos aspectos,

concebidos em conjunto,

tem seu próprio hemisfério

e que é uma construção

sempre em fase de projeto,

porto que está a ampliar-se

demolindo-se a si mesmo.

E, se é porto a memória,

serão águas o que o cercam;

umas densas, caudalosas,

outras pobres, rarefeitas.

E, se é porto a memória,

trabalhando por extenso,

as águas com que ele lida

não serão de todo idênticas.

Serão mar quando em ondas

dialogam seus movimentos,

porém em rios se tornam

quando vêm por afluentes,

que são vários (des)caminhos

por paisagens diferentes,

caminhando a um rio maior.

E ao mar, por conseguinte.

Mesmo quando a água mingua

nos tempos duros das secas,

um porto nunca descumpre

a função pra que foi feito:

receber as embarcações

e tudo que houver nelas,

mesmo como retirantes

de pés descalços na areia,

mesmo que no horizonte

fiquem os barcos à espera

de se ancorarem na praia,

ou se apoderarem dela.

E, se é porto a memória,

terminal de passageiros,

será lugar de passagem

com seus olás e adeuses.

Será encontro de águas

e de muitas suas correntes,

de pessoas de outros mares,

de assuntos diferentes.

Pois, tal peças de mosaico.

se encaixam em desenho,

a memória pelos vários

um grande todo estende

feito de idas e vindas

que é construir-se sempre,

pra ser ponto de partida

de encontro das mais gentes.