QUASE... ESQUEÇO
Não.
Nem sempre fui louca. Nem sã.
Nem sempre fui “santa”. Nem “anta”.
Faço-me… quando me convém.
Burra, não. Sou intolerante à burrice.
Fundamentalmente às mulheres.
Por sermos mulheres neste mundo ainda absurdamente machista…
Não podemos nos dar o direito ao “descanso” da burrice.
Nem sempre fui boa filha. Transgredi muito.
Nem sempre fui boa esposa. Falei sempre e muito.
Esqueci-me daquele detalhezinho do silêncio.
Do balançar a cabeça que sim. Mesmo que não.
Isto particularmente no meu caso. Ele era o “bom”. Eu, não.
Não sou boa nisso. Não sou boa em muita coisa.
Dizem que sou rancorosa.
Só porque perdôo… Mas não esqueço.
Dizem ainda que tenho uma “memória de elefante”.
Mas perco muito os meus óculos.
Minha memória funciona para os meus tantos erros.
São como ecos na noite para dentro de mim.
Me perdoei sim… Mas não esqueci-me.
Talvez seja este o segredo de envelhecer-se bem.
Gratidão…
A minha mãe dizia que não tendo gratidão, não serve-se para nada.
Tenho muita gratidão… Tenho poucos amigos.
Sou difícil e complicada. Choro muito. E tudo muito.
Sou quase uma peça de teatro dramática. E gosto de vermelho.
Deve ser das cortinas que protegem-me da luz.
Mas amo muito também. E esqueço muito.
Só porque perdôo. Mas não esqueço.
Karla Mello