PENSAMENTOS DE RAPINA
Passo o tempo
sem metas, sem regras;
doce desperdício, apenas.
Pensamentos de rapina
se aproveitam,
enfeitam de fita negra
através anilhos de mim.
Sou a reprise do que copio e recopio,
do que plagio da natureza ao vizinho,
das imagens da TV aos folhetins de enfastio
- faço um pastiche dos próprios arrepios. -
Sou a mente-xerox dos jornais,
a sua essência repetente e subnutrida.
Sou a boca dos fraseados inúteis,
dos nacos irrecuperáveis do meu ser.
Meu particular vazio
é o que mais dá-me a vida.
Paupérrimo consolo em saber:
que também a maioria nada tem a dizer
(embora sintam-se ricos, milionários)
Esse é o alento dos miseráveis.
Esse é o meu desafortunado alento.
Minha liturgia é paripassu
com a do gado
que com dócil espírito de manada
atravessa um rio cheio de crocodilos.
Eu sou o boi manso que reza e atravessa...
Já me foi o rabo. Já me foi a pata.
Quiçá, na próxima dentada, me irá a alma.
Alimento
o mais comum deste mundo
por um buraco no meu peito.