POEMETOS ILUDIDOS

- I –

ATRASADO

Perdi o itinerário do teu beijo:

Um bonde chamado desejo

D'onde a vaca foi pr’o brejo...

- II -

SUPERPODERES

Morar num cristal mole

E assoviar lá do alto (feito pássaro)

Um som de riacho

- III -

DOUTOR

nunca sei o porquê disso,

o porquê daquilo

como não sei exatamente por que

qualquer coisa existe...

é quando até eu me surpreendo:

como entendo tão bem dessas coisas

que não podem ser sabidas?

- IV -

CAÇADOR DE VERDADES

ando a perseguir verdades in natura

(que as meias-verdades, aquelas infantis, imaturas,

nem me coçam –

andam por aí, todas juntas, comuns e muitas

como crianças à saída da escola)

- V –

MUDEZ EXEMPLAR

a incerteza das frases,

na língua, arde...

... já a absoluta falta das palavras

enfatiza a inutilidade da fala

de quem não precisa falar

(coloca um literal sentido

na mudez exemplar)

- VI -

LEI DO BREQUE

a velocidade que te conduz

é a grandeza que me breca

- VII –

SIESTA FILOSÓFICA

uma rede

bem-balança minha pança

na fresca varanda de casa...

o resto é

filosofança barata

- VIII –

EGO CEGO

sou o endereço

em que me reconheço,

rego, prego e invejo

e neste deliciado auto-sorver

me entrego cego

de tanto poder ser-me

até não mais poder

- IX –

POBREZA D’ALMA

Morreram

Tão pobrinhos, tão pobrinhas

Que nem alma penada

Aquela turba tinha

- X –

É TIRO E QUEDA...

Se uma boa idéia te ataca

Pega qualquer teoria

Pelo chifre e nela aplica

Que a idéia

Logo empaca