O improviso da sorte
A sorte diversifica os seus afagos,
alenta e frustra; ventura, desdita;
alguns peixes saltitaram lá no lago,
espero tanto, nenhum mais saltita;
evita ser lida em ordem alfabética,
qual pasta arquivada, lógica e fria;
talvez ela tenha uma veia poética,
acerca o horizonte e após, o amplia;
gosta pois, de engendrar surpresa,
é senhora grave e travessa menina;
multiplica seus quadros rara beleza,
cambia martelos a quebrar a rotina;
mas, é uma sorte ser a sorte, assim,
usando como assessoria o inusitado;
a encontrar brilho num opaco jardim,
esquecido ao léu nem sequer, regado;
se nos veda a cigarra pois, é em prol,
do canto da chuva e seu coro agreste;
pós risca na partitura sua clave de sol,
na pauta curvilínea de um arco celeste;
não foi obra da sorte, sempre foi Deus,
dizem que apedrejam o vidro do poema
sim, arte de Homero também tem ateus,
que para soluções, arrumam o problema...