Sonhos digitais…
Arde tudo
Até mesmo os nossos ideais
Só nos restando ligar às máquinas
Entrar num coma cibernético induzido
E ter o futuro e o presente desejado
Em
Sonhos digitais…
Num registo que se quer eterno
Pelo menos ensinam tal nas escolas
Que nesse mundo
As coisas acontecem
Mas o corpo
Não envelhece
Ou tarde em envelhecer
Com a vantagem adicional
Que os podemos ter acordados
E não somente
Depois de adormecer…
Mundos e universos
Feitos à dimensão
Das nossas ambições desvanecidas
Ou meramente perdidas
Na voragem de uma realidade
Que vive em se devorar a si própria
A se querer superar
Em muitos absurdos
De tal ordem
Que para evitar a suprema implosão
De si mesma
A si mesma tem que anestesiar
Pelos mesmos mecanismos
Que nos roubam a esperança
A fé
São esses que para nos compensarem
Nos colocam a sonhar…
E assim se contam as fábulas modernas
De uma modernidade
Que perdeu a capacidade
De gerar tal
Da forma antiga
A forma milenar
Mitos modernos
Que se comem a si próprios
E por isso
Nada deles
No futuro irá restar…
E assim se cantam
As canções do engano
E assim
Tanto adianta
Dizer que sim
Ou que não te amo
Se tudo é evanescente
Se tudo é virtual
As palavras de amor
Passam por serem
Algo de banal
Até que mude o programa
Se altere a programação
A desilusão evitada
Dura então um micro-segundo
Tudo está bem
Não o estando de facto
Pois todos estamos ligados à grande rede
Ou a qualquer ecrã
Ninguém se apercebe dos enganos
Que de facto a realidade é vã
Ninguém se revolta
Na droga suprema não assumida
Na qual andamos todos viciados
Digo-te até amanhã
Não com a voz
Com o olhar
Com o tacto
Digo-te com botões
Ou semelhantes
Dou-te um beijo
Não o dando de facto
Estou completamente drogado
Viciado
Estou
E estamos
Todos enganados
Ao ponto de me terem que implantar aquilo que me usurparam:
O amor
Os meus ideais
E os novos tempos são tão belos
Demasiado…
Sonhos digitais…