Em outras palavras
Em horas em que me pego a devanear, sombrio, taciturno
Alvejo, sem nenhum resquício de piedade
Esse monturo intelectual em que vivemos afundados até o pescoço
(Esse charco em que se revolvem nossos mais repulsivos monstros noturnos)
Ao qual, com prodigalidades de flácida e decrépita cortesã, chamamos de modernidade.
A aflição, antiga parceira, que ora me transpassa a alma, não depreende explicação ou cura:
Surge dos desvãos em que se mantém acoitada e vai se infiltrando por entre as frestas, (Que inadvertidamente deixo)
Como água de nascente rompendo através das pedras – pouco a pouco.
Em minha cabeça se esconde uma proto-enxaqueca que não sei desvendar...
(Se acaso respondo um caçuá de interrogações, outra tropa, a galope, vem incontinenti ocupar-lhes o lugar.
Nessa forma de cometer versos, livres, alinhavados com mal disfarçado desleixo
Aplico-me uma bofetada na face, dessas capazes de acabar com uma ruidosa histeria:
Se for para produzir um alqueire de bobagens; se tenho de ficar conforme
O que dita a contemporaneidade
Digo-vos, (E o digo também, a mim) impenitente transgressor que não se redime...
Uma montanha bem alta, um horizonte longínquo,
Farão eco a um espírito que pugna por liberdade;
Não o acalma, a bem da verdade,
Mas, faz-lhe ver que antes de se prosternar diante de corações e mentes conspícuos
É preferível relatar o mais hediondo dos crimes
Seja ou não tal ato de sua lavra
(Não obstante tal postura ganhe roupagens da mais absurda heresia)
Do que falar de Amor, de Ódio ou da onipresente Dor (Temas recorrentes em tudo o que se pretende Prosa ou Poesia)
Sem arrancar das próprias entranhas algo mais do que meramente palavras.
Assim fala o inquieto lobo dentro de mim, que, premido pelos imemoriais fluídos do plenilúnio, uiva com o desespero dos exilados, e volta contra si mesmo suas garras mortíferas.
Terras de São Paulo, primeiras horas de uma magnífica noite de Lua Cheia de Agosto de 2011.
João Bosco