Flautistas
Tenho medo que o falso saber,
venha custar mui caro, depois;
e que sejamos privados de ver,
de onde tal vento, sopra, pois;
que gênios atuem para manter,
nossos neurônios apenas dois;
esse conforto que veta crescer,
deve conhecer o nome dos bois;
pomos máquina a nos obedecer,
somos Césares em pleno poder,
eu o sou, tu és, ele é, vós sois...
É preciso uma revolta em Roma,
co’a plebe de costas pro Coliseu;
aprendermos de Sophia o idioma,
e reavivar a chama de Prometeu;
dizer: tirano, por quem nos toma
nosso tempo de apedeutas já deu;
chega de embuste, não embroma,
e venha à luz, o que se escondeu;
que todo o lixo, pois, boie à tona
corrupção dê com a cara na lona,
e dona justiça retome o que é seu.
Gado marcado,com ferros virtuais,
engordando pro interesse do dono;
falsas asas iludem esses animais,
amaciam seu leito, ajudam o sono;
mentecaptos se creem intelectuais,
a estultices emprestam seu abono;
não há garçons, apenas comensais,
cada casa com um reino, um trono;
os ensinamentos do Príncipe da Paz,
torcidos, vão rendendo vis metais,
o joio enchendo, toda terra do sono...
Agora que todos somos como Deus,
e cada qual decide o bem, e o mal;
demorou entretanto, já aconteceu,
vaticínio perverso do gênio do mal;
então, me pergunto, que rei sou eu?
se, sou no meu parco reino, serviçal;
e ao colher maduro, o fruto que deu,
frustração tamanha acompanha o tal;
na verdade, a promessa não valeu,
mentira. Porque a doida da Eva creu,
antes do tombo que a vida era legal.
Espalhafatoso triunfo das nulidades,
dia a dia , desfilando na nossa cara;
e bastam dois arbustos da verdade,
para a camuflagem todo um Saara;
o sopro enfeitiçado erigindo cidades,
a cobra encantada em nada repara;
os "flautistas" dizendo barbaridades
a uma plebe adoecida, que não sara;
que pena será, tantos saberem tarde,
que o crédito irrestrito a esse alarde,
vindo o juízo final, será nossa vara...